domingo, 9 de agosto de 2020

1 -
Quando eu era criança, lá com 8, 10 anos, mais ou menos, eu dividia o quarto com meu irmão mais velho. Oito anos de diferença entre nós dois. Lembro de quando o nosso pai comprou um rádio novo, com entrada para leitura de CD, meu irmão ficou com o rádio velho que só tinha entrada para fita K7. Ali, naquele quarto, começou meio que sem querer a minha história com a música.
Meu irmão ouvia rádio e quando tocava uma música que ele gostava ele gravava com as K7. Nas fitas dele eu ouvi Nirvana, Gun´s Roses, Red Hot Chili Peppers, Racionais MC´s, Metallica... E eu gostava do que eu ouvia.
Ao mesmo tempo nos meus cadernos tinha a cara da Sandy e Junior. Ouvi, cantava, adorava Sandy e Junior. Depois teve aquela que ficou bem famosa chamada Banda Rouge, depois teve o RBD, mas eu não curtia muito e acabei deixando de lado essa moda. Meu pai me deu um CD da Shakira.
Fora essas coisas, eu ouvia muito as coisas que tocavam na Continental, aquela rádio que dizem que é de velho, sabe? Pois é, mas eu gostava também. Ali na Continental eu ouvi Chico Buarque, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Gal Costa, Maria Bethânia, Elza Soares, Cartola, Elis Regina... E com todos esses sons eu fui criando meu gosto musical. Daí me vem a adolescência e dizem que é pra eu ter um preferido, ter que ser fã de alguém (porque todo mundo era fã obsessivo compulsivo por algum artista). Eu não conseguia me enquadrar. Eu ouvia funk mais adiante, no mesmo período que descobria Led Zeppelin, The Doors, Television...
Daí cheguei na universidade, já tinha um computador há 5 anos e pesquisei muito sobre música, eu achava que já ouvia de tudo que existia porque eu ouvia muita coisa diferente mesmo. Só que daí, a universidade né, tu encontra tanta ente, de tanto canto, com tanta informação, que minha filha, aí tu vê que tu não sabe é de nada mesmo.
Hoje em dia eu tenho escuto coisas repetidas. As vezes até preciso me lembrar de procurar coisas novas ou ouvir algumas que goste e não escuto faz tempo. Nesses momentos não sei se vocês passam por isso, mas eu fico um tempão tentando futricar na memória uma que eu queira ouvir. Parece que todas as mils que eu conhecia se esconderam, é sempre assim comigo, será que é ansiedade o nome disso? Fica aí a questão.
Tool, Gojira, Björk, Ricon Sapiência, Tulipa Ruiz, Thundercat, Tyler The Creator, Riahanna, Beyoncé, Esperanza Spalding, BADBADNOTGOOD, Agnes Obel, Fiona Apple, Boogarins, Ventre, Carne Doce, Dingo Bells, Amargo, Paola Kirst... gente, não para mais de colar nome aqui no meu cerebrinho!
Hoje em dia minhas músicas falam de afetividade, mostram mais e melhor essa diversidade tão grande que me encanta que aprendo cada dia que passa a entender um ponto a mais e com sorte me transformar. Aprendo cada vez mais que quanto mais plural, melhor. Aprendo que o que há de mais valioso na arte é o comunicar-se com outro. Aprendo a me conhecer através do reconhecimento no outro... Fui longe, né? Mas se me acompanhou até aqui, obrigada. Vou sair pra pensar mais sobre isso.
Música como matéria terapêutica, como ferramenta de autoconhecimento e de revolução também. Qual o lugar que ocupa a música na tua vida?

2 -
Falar sobre música é falar também sobre quem eu sou. Desde de muito fui rodeada por música, tanto de pessoas que consumiam e por consequência eu consumia também, tanto por pessoas que faziam música. Tive sorte de ter a arte sempre próxima a mim. Acho que por isso sempre quis ocupar esse lugar de participante ativa na música, mas nunca me senti capaz. Aos 15 anos ganhei um violão de presente. Aos 22 me dei de presente uma gaita-de-boca. Aos 27 um contrabaixo elétrico. Mas a sensação de insuficiência permaneceu. Insegurança mesmo. Sensação de que não entendi o que fazer com aquilo. Não entendia como funcionava. Mas foi só depois de participar de uma jam com meus amigos que fazem música que entendi. Na verdade só entendi depois que me permiti sentir sem me julgar antes de qualquer coisa.

3 - 
Tu tem consciência do que tu consome musicalmente falando? Só queria levantar a questão, não vou discorrer agora, mas chamo pra reflexão.


 Beijinho!

sábado, 25 de julho de 2020

Reativando a escrita.

Faz bastante tempo que não escrevo aqui no blog e como essa foi uma ferramenta de autoconhecimento e de conectividade com o mundo interior e exterior durante toda minha vida praticamente, decidi reativar esse espaço que a internet me permite ter, para trazer então não mais uma escrita apenas subjetiva, mas objetiva e crítica sobre o mundo no qual eu vivo, vivencio e o mundo que tenho descoberto em contato com outras realidades.

Criei um canal no YouTube há pouco menos de um mês e lá me proponho a conversar com quem me assiste sobre temáticas diversas, temáticas essas que me atravessam de alguma maneira, como feminismo, racismo, sociedade e cultura. Não só me proponho a conversar do ponto de vista de que propõe um debate, mas também do ponto de vista de quem está em crescente aprendizado e desconstrução de preconceitos e padrões sociais nocivos.

Eu em meus 27 de vida pude perceber o quão importante a fala e principalmente a escuta tem são para reconfiguração de um mundo mais justo e no mínimo mais acolhedor pra muitas pessoas, inclusive nós que estamos aqui nesse encontro textual.

Tenho refletido sobre nossas relações interpessoais e como elas nos afetam positivamente quando tratadas com o devido espaço de diálogo, de empatia, de apoio mútuo dentro do que nos é capaz de apoiar e suportar. Suportar no sentido de dar suporte, não de engolir sapos, ok?!

Assim com no meu canal, intitulado Café com Marocas, me proponho a fazer uma escrita por semana nesse espaço relacionado à temática abordada no canal. Creio que não será um processo de desenvolvimento pessoal apenas, mas um convite ao mundo (mesmo que esse aqui específico de quem entra nesse URL) de troca de experiências e saberes, aprendendo juntos a transformar e evoluir nossos pensamentos e ideias.

É isso. Até mais e beijinhos!


Ah, e feliz dia da mulher negra latino-americana e caribenha, dia de Tereza de Benguela! #25dejulho

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Me destruí. Fiz de mim o que não me orgulho em ser.
Quando foi que passei a faixa e cruzei para o outro lado?
Sei é que não posso voltar meus passos, não posso nem apagar eles, que dirá mudá-los.
Mas vou mudar mais uma vez a mim mesma. Madurar mais uma vez. Plantar, regar, fazer brotar e desabrochar em carne e osso. De novo.
Porque no fundo de tudo que passo e me destruo sei que tem sempre umas sementes de amor próprio e de crenças boas em mim mesma que me fazem querer me cuidar novamente e me deixar livre no mundo mais uma vez.
Destruir e recomeçar. Recomeçar. Ser aquilo que acredito ser. Acreditar ser aquilo que se é realmente. Se reinventar.

Os anos tem sido difíceis.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Bicho.
De pelos e pele.
De olhos turvos, carregados.

Bicho tu.
Um bicho todo carente, todo carinho.
Pra quem vê de perto e vê que é todo bicho.

De sentires intensos, vorazes, que queimam e ardem.
De cuidados muito, de delicadezas escondidas,
de toque suave, de mãos macias e lindas.
Tudo lindo.
Um bicho lindo assim, no meu colo deitado, nas minhas mãos afagado... Te quero assim.

Sem precisar dizer nada
nem mostrar
nem nada
Meu bicho, tu me tens.
Em março uma vênus retrógrada foi descoberta em meu mapa.
Em abril foi preciso três noites pra se ter certeza do que se queria.
Em maio me inundo.

Transbordo e transpareço. Correnteza é sentir-se assim. Transbordante e translúcida.
Assim, sem falar, contudo saber.
Saber sem nem saber ao certo o que se sabe, mas sabe porque sente.
Sonhando o que já se sente, sonhando com a realidade. (Com a realidade!)

Que espanto bom nem mais me reconhecer de tão bem-estar.
Estar sendo bem, bem comigo, bem contigo, bem com tudo.
Estar sendo e querer ser mais.
Encharcada. Lavada e passada a limpo. Cada vez mais limpo e mais claro. Clareando esses corações turvos e densos.

Colorindo os cinzas e os pasteis.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Desencanto

Desgostei. Desencantei.
Passei um café, pensei. Tomei duas xícaras e pensei.
Na verdade já não havia mais nada a pensar. Já tinha decidido tudo só ainda não tinha a coragem .
Coragem pra acabar e pôr pontos finais. Coragem faltou até pra pôr ponto final no que era pouco, pouco-quase-nada. Nem sei bem o que era.
Era ilusão. Uma ilusão mimada de um alguém que nunca saiu do seu conforto.
Um desconforto pra mim.
Coloquei fim no pouco que me desconfortava tanto.
Aquele encanto de brilhar o olho quando se vê um rosto já não existe mais. Um rosto. Já não existe mais.
Por hora, não mais.
Por hora, três xícaras de café. Porque gosto assim.

E daqui por diante apenas o que gosto (porque gosto assim: facin, docin, gostozin).

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Das descomplicâncias dos afetos

Acordei com vontade de desatar nós.
Desfazer emaranhados de cacos embaixo do peito.
Acordei com vontade de nos suavizar com um despretensioso "como vai?".

Quanta coisa a gente carrega pesando o caminho, amuando o coração, retumbando em sonhos e se engaiolando em quereres.
Vamos aos fazeres!
Afinal de contas, não deve ser tão difícil dizer oi.

- Oi, eu tô aqui pra dizer que depois desse tempo todo meu coração se aquietou. Sei que alguns quereres... Bem, eu sei que não serão aquietados, mas tá tudo bem, de verdade. Já passou, foi. Aliás, que bom saber que tu vai bem e que entende o meu não dizer mais nada com secume daquele verão passado. Fui seca, fui corte, mas não porque não te queria, pelo contrário. Demorou pra eu parar de aguar por ti... Enfim, tô bem, vim dizer um oi e arrumar esses rastros de bagunça que ficaram por aqui. Ainda quero aquela tarde, pra te devolver aquele livro (que nunca li).

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Uma força dessas que não é de músculos,
não é de fibras,
não tem a ver com carne nenhuma.
Uma força que surge das entranhas, mas vem de muito mais profundo.
Vem do fundo e de antes.
Acho até que tem muito de ancestralidade
nessa força toda.
Quando ouço as histórias delas, quando me reconheço como fruto  que também vai deixar sementes, quando percebo que não é parecendo grandiosa que essa força se torna assim... imensa, gigante... Esse senso do coletivo mulher.
Mulher meio bruxa, meio loba, meio cientista, meio poeta.
Meio inteira, mesmo cheia de rachaduras centenárias.
Historicamente tratadas como metades, meios, menores e o que mais for nesse caminho.
"Torna-se mulher", disseram. Ela disse.
Disseram tantas coisas, não é mesmo?!
E eu ouvi. Ainda ouço tudo.
Contudo, aprendo cada vez mais a sentir. Dia após dia.
Sentindo os dias e o que vem com eles.
E isso,
meu bem,
é o que é essa força.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

No fim das contas todas o que eu contabilizo se volta para o eu, para o meu próprio bem-estar e bem-viver.
No fim de tudo o que importa é eu ser feliz e estar de bem comigo mesma e com minhas tomadas de direção. De bem com as escolhas que eu faço ou deixo de fazer.
Tem a ver contigo também, é claro que sim, é de nós que eu gosto e não do ser/estar só.
O que eu gosto é de ser/estar nós. Eu gosto de nós.
Emaranhados de braços, abraços, cheiros, aconchegos, cafunés e recordes de horas deitados na cama e todo esse mar de afeto que é onde eu flutuo.
Mas pra ser nós tem que ser eu antes de tudo, antes dos emaranhados todos.
Ser eu pra poder ser nós.
É difícil, eu quero ser o fácil e o levo, mas é difícil e pesado ao mesmo tempo.
Saber ponderar, saber ceder sem deixar de ser. Saber ser firme sem ser dura.
Toda uma malemolência, todo um rebole-bole, tudo isso pra poder ser eu e ser nós e estar feliz e ser feliz e ficar de bem com tudo isso como tudo isso é.
Eu queria o fácil, mas meu mundo de alice está caindo por terra e percebendo que nada é fácil ou sem um tanto de esforço... Mas tem coisas que valem os acordos e tantas horas de conversas pra chegar em algum lugar.
Lugar esse nosso, que apesar de não sabermos onde estamos indo, sempre acabamos num abraço bom.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

E se ao invés de querer sugar a alma daqueles que não são nós
E se todo o olhar, qualquer olhar, tivesse um pouco mais de carinho
E se o umbigo não fosse o que mais importa
E se o afeto conseguisse realmente afetar - Afetar aqueles todos, sabe