quarta-feira, 6 de julho de 2011

Realmente despreparados

Eu lembro de uma vez em que voltava da escola com ela. Quando o ônibus dobrou a esquina nós pulamos para dentro dele sem piscar os olhos. Se perdessemos aquele demoraria um poucão até vir outro. Quando estávamos descendo a rua de casa eu me dei conta que tinha esquecido minha mochila na parada. Tadinha, ela se culpou por não ter lembrado. Não foi culpa dela, era minha responsabilidade. Apesar de eu estar a recém na primeira série, eu já deveria saber que a minha mochila quem deve cuidar sou eu.
Ela sempre foi muito carinhosa, muito turrona às vezes, falava uma bobagens como "tu tem titica de galinha na cabeça!" e me chamava carinhosamente de "minha cabritinha". Foi criada no interior, era o que eu sempre pensava.

A nossa vida é mesmo coisa muito frágil, sem segurança. Quem diria que hoje, aquela que me cuidava, me buscava na escola, iria precisar de uma "babá".
Situações difíceis iremos enfrentar a vida inteira, mas têm algumas que nos perguntamos como pôde acontecer e ficamos sem explicação plausível.
Alzheimer. Ninguém nunca imaginou. Veio rápido, repentino e quando nos demos conta ela já dependia de nós pra tudo.
Eu que sempre imaginei que o máximo que poderia acontecer de mudança na minha vida familiar fosse a separação dos meus pais e que o resto continuaria na mesma rotina, indo na casa delas, comer pipoca, tomar chimarrão, como sempre foi até o fim da vida. Seria bom, como sempre foi.
Mas têm coisas que nos pegam realmente desprevinidos. Realmente despreparados.

[É aí que penso mais que o que vale mesmo é como seremos lembrados por quem nós gostamos. Como serei lembrada? -Ela ainda sabe quem eu sou, a "cabritinha"?]

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