terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Antes que se perca


Sinto uma vontade imensa de dizer-te algo. Te contar que a rosa que comprei já há duas semanas está há mais de uma murcha dentro da garrafa com água, secando aos poucos. Talvez falar das minhas angústias à noite quando acordo com raiva de ter sonhado mais uma vez o sonho que não quero nunca mais sonhar e que todas as noite sonho. Falar sobre meus cacos, pequenos estilhaços que habitam dentro desse meu corpo e que de vez em quando, dependendo da maneira como caminho, se sacolejam e me incomodam, me machucam, depois logo passa. Dizer que sim, estou tendo momentos bons e alegres os quais estão me fazendo muito bem e estão me renovando de maneira suave e boa. Mas não quero apenas dizer-te algo, quero ouvir-te também. Quero ouvir tua voz falando bem perto sobre qualquer coisa que eu ainda não conheça, como o seu cachorro que eu nunca vi ou a sua cidade que nunca visitei. Quero, entre um gole de café e outro, ouvir você dizer com cheiro de expresso que o filme que te comentei tem uma fotografia boa, mas um péssimo roteiro. Quero escutar as tuas melancolias e abraçar tuas tristezas do jeito que eu gostaria que você me abraçasse. Quero ouvir-te dizer que somos cúmplices de momentos alegres, vorazes e o que quer que for e que seja bom e que seja gostoso e que você goste... Só espero ter tempo de dizer-te essas coisas e de ouvir de ti estas outras depois que acabar de me entorpecer com mais uma garrafa de vodka, assim como fiz antes, assim como fiz antes deste outro antes e assim como tenho feito mesmo sem planejar fazer. Espero ter tempo depois, antes que você fuja de mim e finja que nada aconteceu, de dizer-te que hoje eu não acordei no meio da madrugada porque eu não sonhei o sonho que não gosto e que eu adoraria visitar sua cidade e conhecer seu cachorro. Espero que eu não mergulhe você junto com minhas mágoas nessa garrafa sem perceber, seria uma pena.

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